Sua carta, meu amor, veio num envelope de papel-seda,
o selo dos mais bonitos que já vi.
Letras impecáveis no verso remetente.
Meu nome de destinatário, em letras
arredondadas, manuscritas...
Abri a missiva com pena de rasgar o dourado envelope,
como quem abre um presente vindo dos anjos.
Papel perfumado, bem dobrado,
como um lenço de madame..
O cabeçalho da carta, o supra-sumo do sentimento.
Li cada frase como se lêem as poesias líricas,
cada páragrafo era um quadrante de encantos.
Lendo, ouvia sua voz nas letras,
sentia sua respiração nas vírgulas.
Mas, muitas vezes, cartas são filmes de final infeliz:
"És um poeta, um deus-romântico,
o sonho de toda mulher.
Mas assim é a vida, querido.
Quisera ser tua alma gêmea.
Mas entenda, és tão diferente de mim,
e não sou digna do teu amor".
Foi este o recado final da tua "bela" correspondência.
A carta, na essência, era uma sentença,
um páragrafo de desatino.
Melhor seria um bilhete de letras tortas,
um papel pálido de enrolar pão,
enviado por um moleque
que você encontrasse em qualquer esquina.
Sua carta, meu amor, incialmente poética,
era uma bomba relógio-rolex,
um porta-jóia de bijouterias,
o Cavalo verbal de Tróia.
Rasguei-a em pedacinhos,
fiz retalhos deste amor retalhado.
Mas não joguei no lixo
estas migalhas de ingratidão.
Ainda enamorado, apaixonado,
guardei os sonhos despedaçados
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